China supera a Europa e já atinge até 99% de recuperação de materiais de baterias EV? Entenda o que há por trás dos números

China já recicla até 99% dos materiais de baterias EV? O que é fato, o que é meta e o que muda para o mercado

Empresas chinesas reportam taxas de recuperação de até 99,6% em baterias de veículos elétricos. Veja o que os dados realmente significam, como a Europa reage e quais as implicações para a cadeia de suprimentos — inclusive no Brasil.

Por que a China saiu na frente

A capacidade global de reciclagem de baterias passou de 300 GWh/ano em 2023, e mais de 80% dessa capacidade estava localizada na China, muito à frente de Europa e EUA (cada um com menos de 2%). Isso ajuda a explicar por que as manchetes sobre “China na liderança da reciclagem” se multiplicaram: há escala industrial, rede logística e políticas públicas que empurram o ecossistema para a frente.

Além da escala, surgiram novas normas e padrões técnicos chineses para desmonte e reaproveitamento de baterias, o que acelera a padronização dos processos e dá previsibilidade aos investimentos privados. Em 2025, autoridades aprovaram uma bateria de normas técnicas — incluindo procedimentos de desmonte — para elevar eficiência e rastreabilidade.

O que significa “recuperar 99%”

Reportagens recentes destacam que algumas empresas chinesas afirmam recuperar ~99,6% de materiais críticos (níquel, cobalto, manganês) em baterias de íon-lítio no fim de vida. Esses números se referem à taxa de recuperação de determinados metais do “cátodo” após etapas como trituração, separação e refino químico — e não significam que 99% de tudo na bateria (ou 99% de todas as baterias do mercado) foi recuperado. Em suma, são índices metalúrgicos específicos, ainda que impressionantes.

Também é importante separar resultados de laboratório/piloto de desempenho em escala industrial: parte das divulgações não deixa 100% claro se os índices se mantêm com grandes volumes e cadeias logísticas complexas. Mesmo assim, a direção é nítida: a eficiência técnica está subindo rapidamente, em parte graças a novas rotas hidrometalúrgicas mais seletivas e com menor perda de valor.

Europa: avanços… e entraves regulatórios

A União Europeia vem construindo um marco regulatório robusto (Regulamento de Baterias, metas obrigatórias de recuperação e conteúdo reciclado até o início da próxima década), mas enfrenta custos de energia mais altos, fragmentação regulatória e logística mais cara — fatores que atrasam projetos e elevam o payback. Estimativas independentes apontam que a Europa pode perder parte do potencial de reciclagem até 2030 se investimentos e políticas de suporte não acelerarem.

Em 2025, a Comissão Europeia decidiu classificar a “black mass” (mistura concentrada dos metais recuperados após trituração) como resíduo perigoso, o que muda regras de transporte e exportação. A intenção é manter mais material dentro do bloco e garantir tratamento ambientalmente adequado — mas, no curto prazo, isso aumenta a complexidade operacional e custos para recicladores europeus.

Já os alvos regulatórios europeus de recuperação são escalonados por metal, com metas crescentes para lítio, níquel, cobalto e outros, buscando elevar a circularidade e reduzir dependência de mineração. Esses patamares, porém, ainda ficam aquém dos “99%” divulgados por algumas operações chinesas, e demandam tempo para maturar.

A disputa é por segurança de suprimento

Para além do “placar” de eficiência, o jogo real é segurança de suprimento de materiais críticos. A Agência Internacional de Energia (IEA) alerta que a concentração em refino e reciclagem tende a aumentar a exposição a choques (restrições comerciais, gargalos logísticos, eventos climáticos). Nesse cenário, a China deve ampliar seu peso na reciclagem e no refino; Europa e EUA correm para diversificar e onshorar etapas, mas partem de bases menores.

Em paralelo, anúncios de capacidade de reciclagem até 2030 mostram a China mantendo liderança, enquanto outras regiões expandem a partir de patamares baixos. Para o investidor e para quem opera frota, isso sinaliza que custos e prazos de logística reversa tendem a ser mais competitivos na Ásia no curto prazo — até que o Ocidente feche a lacuna.

O que isso muda para o Brasil — e para os usuários da EVAuto

Para o mercado brasileiro, duas leituras são centrais:

  1. Cadeia mais resiliente e previsível: com reciclagem eficiente, reduz-se a dependência de mineração nova para certos metais, suavizando risco de preço e volatilidade — fator relevante para TCO (custo total de propriedade) de EVs usados no Brasil.
  2. Tecnologia e parcerias: o Brasil pode importar tecnologia/processos de reciclagem e firmar joint ventures para tratar a futura “onda” de baterias ao fim de vida. As políticas de responsabilidade estendida do produtor (REP) já aparecem como referência no desenho de cadeias mais fechadas, como se vê na experiência chinesa com diretrizes específicas para baterias de NEVs.

Para quem compra/vende na EVAuto, o recado é positivo: o crescimento da reciclagem sustenta o valor residual das baterias, melhora percepção de sustentabilidade e fortalece a narrativa de economia circular — argumentos que ajudam tanto na revenda de EVs quanto na tomada de decisão de frotistas e motoristas de app.

Conclusão

Dizer que a China “já recicla 99%” requer nuance: há processos que reportam até ~99,6% de recuperação de metais específicos, mas isso não equivale a dizer que todas as baterias atingem esse índice em escala industrial. O que é inegável é a liderança estrutural chinesa — feita de capacidade instalada, padronização técnica e políticas coordenadas — enquanto a Europa, mesmo com um arcabouço regulatório ambicioso, ainda enfrenta custos e entraves que retardam a escala. Para o mercado global (e para o Brasil), essa dinâmica aponta para uma década de rápida aprendizagem, consolidação de tecnologias e mais circularidade na cadeia das baterias.

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